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sábado, agosto 24, 2013

"Ridículos!" - ou: Post para todos os 'ridículos' do mundo! 


Do livro A DESCOBERTA DO OUTRO, de Gustavo Corção, um livro que li há mais de 5 anos, mas cujas palavras ainda ressoam dentro de mim:

Fiquei então convencido, nesse tempo, de que o mundo estava torto, intencionalmente torto, por malícia humana, para benefício exclusivo da detestada classe burguesa. (...)
Encontrei amigos velhos e conheci novos. Em todos havia a mesma sanha antiburguesa (...)
Formamos logo um grupo conspirador onde havia um pouco de tudo o que fosse revolucionário: leninistas, trotskistas e fascistas. (...)
Passávamos as noites trocando idéias para a retificação do eixo da Terra, com alarido, gastando generosidade, vivendo uma espécie de adolescência mental, citando autores mal lidos, condenando outros absolutamente ignorados, inventando filosofias (...) Os problemas mais diversos do mundo, desde o trigo até o sexo, teriam soluções fáceis desde que pudéssemos fazer um reajustamento de caráter plutônico na geologia social. (...)
Para mim e para o amigo Fred, quando os marxistas não estavam presentes, o problema era mais psicológico do que econômico. Havia melhor entendimento entre nós; e, em lugar de divisão da sociedade em classes, que nos parecia simples demais e um pouco ingênua, víamos a separação dos homens pela linha meridiana da mentira. Fred queria salvar o mundo da mentira ainda que devesse ser implacável e cruel. (...)
Faltava-nos, porém, uma técnica revolucionária (...)
Às vezes os amigos vinham a minha casa (...) o meu maior receio era que os amigos percebessem o burguesismo do meu interior. Nessas noites não havia beijo em filho, e quando a mulher subia para o sobrado levava como despedida um aceno de camaradagem soviética. Um dia, já por essas razões e também pelo heroísmo de nossas conversas, minha mulher declarou-me que eu e meus amigos éramos ridículos.
(...)
Quantas vezes já tenho pensado em vocês, meus bons companheiros de noitadas! Apesar de tudo, nós nos queríamos bem. Hoje vocês estão longe, espalhados pelos quatro ventos, alguns exilados por terem passado da conversa fiada e inofensiva para os atos perigosos e irrefletidos. Meus bons companheiros, minha mulher tinha razão: nós éramos ridículos.
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